domingo, 30 de novembro de 2008

Caatinga

a caatinga:
cinza

do garrancho
retorcido,
do pensamento
esquecido,
do riacho
corrido
ido

na caatinga:
a gota d'água pinga
traz o verde,
mata a sede
que se teve
por um riacho
ido
corrido:
o cinza

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Ânus 70


A dupla Page e Plant, atuando nos recentes longinquos anos 70

Há muito tempo, numa discoteca muito, muito distante havia aquela cara, que abalava as noites de sexta-feiras ao chacoalhar freneticamente sua estrutura óssea em contratempos, antecipando a filosofia dream-theateriana. Era Lé de Zé Pelim, madeixas inimigas dos pentes e calças tão apertadas que por pouco não o rachavam ao meio, aproveitando a fissura glútea.

Em certa ocasião, ele que esperava por Darth Vader para lhe vender as balinhas de menta, ia amarrando os cadarços da mente, com um Hollywood entre os dedos. As luzes da bola cintilante dependurada do teto encandeavam os olhos de Lé de Zé Pelim, alterando levemente o fenótipo de seu “azinho-azinho”.

Da multidão, o amigo Vader surgiu e lhe entregou os comprimidos. Ele os ingeriu depressa. Lentamente, as luzes cintilantes que encandeavam seus olhos passaram a ser projetar, tal qual lâmpadas fluorescentes com som acoplado. E num devaneio interplanetário, lá estava Lé de Zé Pelim duelando com seu amigo de outrora, Darth Vader.

O embate durou centenas de milhões de anos-sem-luz, e, aproveitando o tropeço dos cadarços amarrados, o traficante estelar conseguiu desferir um golpe mortal no cambaleante Lé, cujo final foi o contato brusco com o chão.

No meio da pista da dança, um Ramone distraído foi testemunha do cumprimento da profecia. Como se tivessem apertado o review do vídeo cassete de não sei quantas cabeças, Lé de Zé Pelim retornou à posição inical.

 Hey, ho! É um milagre brasileiro!  vociferou sem acordes punk o Ramone.
– Que a força esteja com você!  e sublimou o Lé de Zé Pelim.


Outro mini-conto da parceria Rudá-Thadeu, guardado no HD e agora liberado para o deleite do público

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Batatas

Quando eu era criança minha mãe dizia que batatas faziam bem pra saúde. Hoje eu acredito, depois que um saco delas que eu carregava rente ao peito quando voltava do supermercado me salvou de uma bala perdida.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Adolescência

– Não aguento mais essa vidinha, esse povo falso, egoísta. Só pensam em suas vidas, suas vaidades. Eu cansei. Tem momentos que eu preciso é ficar sozinha, me isolar um pouco do mundo.

– Toma o dinheiro, vai!

Saiu. Foi fazer compras.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Brancura

Haven, Vladimir Kush

saltando do mar celeste,
um navio que percorre
suave

um pirata que avista
a torre em cima do monte,
a proteger
o jardim de flores
da rainha distante
no trono, mandante

sem vontade,
seu povo
ao capricho do vento
que esculpe com talento
feições
e canções

ao crepúsculo,
partiu o navio ao horizonte
e com ele o pirata

também a torre ruiu
e lá se foi
o império da rainha

eram apenas nuvens.

sábado, 1 de novembro de 2008

Negócio da China

La persistencia de la memoria - Salvador Dali


Em um camelo paraguaio de sotaque francês:

− Esse relógio é à prova d'água?
− É, mas melhor não testar.

Apesar da queda do sr. Dow Jones, a transação ocorreu sem maiores turbulências. No final, o turco vendedor acena seu kipá.

− Hasta la vista, monsieur.


Possivelmente o primeiro mini-conto escrito em parceria no mundo. Ou pelo menos a primeira entre Thaudeu, do 100 Fundamentos, e eu.