sábado, 17 de janeiro de 2009

Transæ

Passada uma década, ela lá, sentada com o namorado. Seu corpo havia ganhado mais curvas e mais volume; meus olhos, mais volúpia. Seios cabíveis em minhas mãos despudoradas, fina cintura e pernas longas e ousadas vestidas num short de palmo e meio, convite ao sétimo pecado capital.

O namorado, um sujeito não muito bonito. No máximo um peitoral estufando uma ridícula camiseta rosa. Sua vantagem deveria ser o sexo: ou bem dotado ou bom deitado. E eu, com tais dádivas agraciado. Tê-la, apenas uma questão de oportunidade.

Esperei até que ela fosse ao banheiro, unissex como se previamente definido por Asmodeus. Copo no balcão, em delírios lascivos a segui.

Dentro da cabine, sua vasta pélvis encaixada em mim, de surpresa. Sem reação. Gostou. Minhas mãos nas coxas largas. Virou-se e arriscou apalpar-me. Descoberto o volume. Esboços de gozo no sorriso. Calças abaixo, pênis para cima. Mais que macias, mãos mágicas, fazendo crescer, inchar, enrijecer.

Não fosse o som da descarga ao lado, ela não teria sido espantada. Da minha mente.


terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Um quase soneto camoniano

Hóspede

Amá-la desprovido de querer
Por certo que não seja impossível;
Em mim esse sentir, de dor, passível
Que me toma sem sólido porquê.

Como o sol no romper de nosso dia
É esse amor que chegou sem uma licença
Recrutou-me soldade sem dispensa
Num embate em que estar não gostaria.

Prostrado ante uma vontade que não minha
De dedicar-lhe inteiro um coração
Esqueço a liberdade que eu tinha.

Sem humanidade, isento de razão
Sou, pois, criatura que caminha
Num eu, não meu, seu; só contradição.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Lapso

a razão é débil:

subjaz aos instintos atiçados
dilui-se no sangue fervente
exala no aroma dos corpos
perece ao pré-gozo
e retorna...
quando o prazer são ecos
pelo quarto








sábado, 3 de janeiro de 2009

(In)feliz Ano Novo


Para o Povo, o ano não poderia ter começado melhor: como magia, seu suado dinheirinho de contribuinte convertido em cores e formas no céu noturno.

Nunca fora acostumado a pensar a longo prazo, logo, perdido em votos de boas-festas, não lembraria do salário vindouro qual chuva no sertão, da fila para a matrícula dos sete filhos, do único doutor no hospital - urologista ainda por cima -, do policial cuja arma carrega bala solitária e dos preços de eterno movimento ascendente.

Taça de sidra na mão, o Povo não mensurava a realidade de cada maquinal "feliz ano novo" recebido, e retribuía, confiante num ano próximo com muito dinheiro no bolso, saúde para dar e vender.