segunda-feira, 26 de outubro de 2009

sem título vi

Les Six Éléments, René Magritte

este será o sexto poema do mês
o sexto elemento de Magritte
o simulacro do já espectro éter
o além-horizonte
transcendência da essência
absoluto inominável

o que nem Platão conseguiu pensar
o que a razão humana, sequer, alcançar
quando o poeta é reticente

terça-feira, 20 de outubro de 2009

sem título v

L'Ange du Foyer ou le Triomphe du Surréalisme, Marx Ernst


este será o quinto poema do mês
a quintessência da poesia
de um mês na quinta colhendo lirismo e lírios
vendendo-os todas as quintas-feiras
nas feiras de quinta, qual a dita poesia
feita de lírios, não mais que de lírios

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Sem título IV

Friedrich Nietzsche, Edvard Munch

Qual a poesia que tem
uma latinha largada na rua?
.......A priori, nenhuma.
.......Pergunto, porém,
qual a poesia da mulher nua?

É pau, é pedra, é uma lata de cerveja
e não há um poeta que esteja
com ela em seus versos.
Quanta ironia:
o poeta está bêbado em sua cama
mas bebedeira é palavra feia
e eles estão ébrios, o são de vinho e amor,
escrevem, deitados no passado,
numa pieguice incabida no hoje.

Clássicos são livros de consulta.
Há os que os façam bíblias.
Se soubessem o que disse Nietzsche,
se ao menos suspeitassem,
se deus não estivesse morto,
se a verdade estivesse nos olhos da mãe,
seria escusado versejar o amor
como não existissem vicissitudes
e a essência jazesse em etéreos sonetos.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

poema de sete versos

L' Annonciation, Philippe de Champaigne

não há mal que perdure para sempre
disse-me um anjo aflito que veio à minha janela
quisesse talvez me consolar
mas presenteou-me com sua aflição
me outorgou assim sua condição
e daí descobri por que o amor acaba
e os anjos não têm sexo



A Bruno, com uma pequena inspiração drummondiana

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

a (in)certeza do poeta

The uncertainty of the Poet, Giorgio de Chirico

um dois três
há alguém entre nós
a matemática é cruel
por isso sou poeta

domingo, 4 de outubro de 2009

inexorável

A Woman in the Sun, Edward Hopper

hoje o entardecer é tela
arrebol em minha janela
uma moldura desgastada
não nega os anos vividos
cães vivazes me fazem inveja
e o sol se pondo é cabal

espero a noite para dormir
após o acalento matreiro
do crepúsculo que não volverá