domingo, 28 de fevereiro de 2010

Livro em processo de editoração

Provável capa do Ideias

Olá, leitores! É com satisfação que anuncio que estou trabalhando na seleção de poemas, diagramação, arte de capa e todas as outras atividades que envolvem a confecção de um livro.

A obra, cujo título provisório é Ideias, deverá ser finalizada até o final de março, ao menos essa é a meta. Além de alguns poemas já publicados, estão inclusos também outros não publicados, não frustrando a atmosfera de ineditismo.

Para ter uma noção mais exata da tiragem e não cair na tentação da macromania nem no menosprezo do alcance da minha poesia, lanço uma lista de pré-venda, na qual os interessados podem manifestar-se. Os 10 primeiros a entrarem em contato terão um desconto de 10% na aquisição do exemplar, sem preço definido no momento, além das despesas postais pagas.

Esclarecimentos e sugestões podem ser feitas através do e-mail
rudax@hotmail.com. Espero sua correspondência!

Abraços!

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Teorizando o concludo

Milano, Joan Miró

O concludo não é resultado de um esforço teórico para desenvolvê-lo. O empenho, no sentido de lapidá-lo, surgiu quando de uma sequência de poemas em que vi repetido um relativo padrão no número e arranjo de versos. Tal relativa despretensiosidade serviu para que somente após a organização desse artigo a nova forma poética ganhasse nome, antes existindo somente em sua funcionalidade.

Certamente, apenas reunir suas características enquanto poema num texto expositivo seria de um reducionismo completamente oposto à sua natureza poética. A origem do concludo está diluída em alguns poemas e compreende um modus operandi acidentalmente delineado. Assim, falar em gênese do concludo é também discutir a própria atividade artística.

Ironicamente, a casualidade em questão, fundamental ao amadurecimento da nova fórmula poética, parece em xeque quando se remonta ao primeiro poema escrito com o arranjo característico dos versos – um simples 6 – 3, isto é, uma primeira estrofe com seis versos e uma segunda com três – na medida em que o poema trata da questão do fazer poético:


poiesis
poesia é mais que rimar
meia-dúzia de vocábulos,
não é um mero brincar
com as palavras,
tampouco expressão
dos sentimentos.

poesia é quando você olha
para o papel e não consegue
deixá-lo em branco.


Escrever um concludo envolve, portanto, o desenvolver de uma idéia, reflexão, elucubração, dúvida, questionamento, posição ou asserção em uma estrofe e posterior e imediata conclusão na segunda. Esse valor semântico identificado em poiesis e em outros poemas abrangidos pela proposta, encontrou institivamente na fórmula 6 – 3 a construção ideal, justificada pela adequação rítmica da quebra de estrofe. A retomada na brevidade de três versos significa, além do eficaz efeito sonoro, uma adequada composição estética. Dessa forma, o rápido intervalo entre estrofes, o hiato essencial, é componente importante, que condiciona uma pausa com a qual o poeta trabalha na percepção do leitor e que antecede surpresa, decepção ou outro sentimento desejado pelo poeta.

O desfecho, em que o poeta realmente diz concludo¹, é pontual. A última estrofe não pode ser uma proposição, mas atestamento, uma conclusão encerrada no limite do poema. Ainda que, de maneira geral, restem incertezas acerca da matéria debatida, o poema precisa ser finalizado em seu último caractere.

Assim, após vários versos terminados, surgiu o primeiro concludo deliberadamente escrito como tal, Insônia:


Um desassossego à noite me veio qual peça de arte.
Não me concentrava senão no balançar
da cortina ao vento, uma rubra pintura expressionista
em penumbra, cena fatídica de filme noir.
Desconfiei de contratempos em sol na bexiga,
minha mera gaita de foles desafinada.

Romance meu sem início nem fim,
somente acompanhado meio repentino,
a concepção sorrateira desse poema.


Somente para finalizar, o concludo é um projeto poético que desperta a reflexão, não se preocupa com métrica e embora seja uma forma fixa, por dar ênfase à questão dos significados, acaba proporcionando ao poeta grande liberdade de abarcar o que quiser com o bônus de chegar a um objetivo no fim das contas. Em última análise, o concludo é mais uma fórmula do que uma forma; suas características centrais são o apelo ao ato de reflexão no limite das 9 linhas. Nessa receita, mais importam os ingredientes do que a tigela.



¹ Concludo é a conjugação do verbo latino concludere (concluir) na 1ª pessoa do presente indicativo.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Sangue Novo: Caio Rudá

Esta é a entrevista concedida ao poeta José Inácio, conforme divulgado na postagem abaixo. Espero que gostem.

PSICOLOGIA DO POEMA – Com respostas que deixam nítidas as marcas do curso de Psicologia, CAIO RUDÁ é um jovem escritor que usa muito da intuição para compor sua poética e, apesar de não ser afeito às influências, as tem e as cita: Drummond e Leminski, o que não precisava fazer, pois saltam aos olhos. Caio Rudá de Oliveira nasceu em Riachão do Jacuípe, interior da Bahia, pouco depois de as águas de março fecharem o verão de 1989. Atualmente, cursa graduação em Psicologia, pela Universidade Federal da Bahia, mantém o blog Das Idéias de Caio Rudá (http://dasideiasdecaioruda.blogspot.com/) e escreve para a revista virtual de literatura Samizdat (http://www.revistasamizdat.com/). Sua vida é transitar entre o litoral e o sertão, assim como o faz também entre Arte e Ciência, na esperança de que um desses lhe explique o ser humano. Não é um entusiasta das explicações, mas esclarece que “não há o que pague um poema pronto”.

JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO – O que a poesia significa para você? Por que e para que ser poeta?

CAIO RUDÁ – Poesia para mim é um modo de perceber e pensar o mundo, e não a restrinjo apenas à escrita. Se a obra de Patativa do Assaré está vinculada em muito à oralidade, gosto de atrelar a minha à meditação. Poesia é uma contemplação mental. Com relação ao porquê e para que ser poeta, confesso que não sou entusiasta das explicações. Não porque me falte curiosidade de entender as coisas, mas pelo completo oposto: tanto me sobra que não me contento com motivos rasos. No curso de Psicologia a gente aprende que em matéria de comportamento humano não se fala em causalidade, e todo ato é multideterminado. Assim, a resposta mais plausível é que ser poeta foi o resultado do modus vivendi de meus anos recentes. Já a finalidade é mais fácil de dizer: não há o que pague um poema pronto.

JIVM – O nome do seu blog, “Das ideias de Caio Rudá”, fez-me lembrar de uma afirmação de Mallarmé, na qual ele diz que “a poesia se faz com palavras, e não com idéias”. Como você analisa essa assertiva?

CR – Conta a História que tal frase surgiu em resposta ao pintor e amigo Degas, que alegava ter boas idéias, mas não as conseguia passar para o papel. Acontece que toda atividade artística deriva de idéias. Pintores, poetas, atores ou cantores, todos diferem no produto final, no modo como direcionam sua criatividade, porém utilizam a mesma matéria-prima para suas obras. Ou as palavras de Mallarmé nasciam diretamente do movimento de seus punhos? Não quero dizer, contudo, que Mallarmé estivesse errado no que dissera, tampouco que minha visão seja completamente coerente. Pelo contrário, somos falíveis no que dizemos. Muitas vezes mudamos as palavras de nosso discurso, e até falamos o oposto do que pensamos. Só penso que haja entre o poeta francês e o estudante de Psicologia diferentes pontos de vista, e é natural que eu priorize processos cognitivos, enquanto que ele o faça com a matéria de seu ofício.

JIVM – E por falar em blog, como você analisa o uso da internet, dos espaços visuais e dos novos suportes tecnológicos, para divulgação da poesia? Essas novas tecnologias substituirão o livro impresso?

CR – A Internet é uma ferramenta muito eficiente para os poetas. Há a facilidade de edição e divulgação, existe a aproximação com o leitor e um blogue bem arquitetado pode ser considerado uma obra artística. Levando em conta a realidade do mercado editorial, é uma alternativa viável e eficaz. Quanto a suplantar o livro tradicional, aí já são outros quinhentos. Se pensarmos no CD, é possível esperar um fenômeno semelhante com os livros, no entanto, quando o exemplo são revistas e jornais, parentes mais próximos do livro, já se nota uma certa postura reacionária. Mudar isso talvez caiba em parte aos próprios escritores. Alguns utilizam os blogues como passaporte, isto é, apenas para chegar ao destino desejado, o livro impresso, e depois o blogue acaba preterido. Enquanto as tecnologias digitais forem acessórios dos escritores, acredito que uma capa bacana, folhas de boa qualidade e um ISBN ainda serão mais atraentes. Culpar unicamente os autores, no entanto, talvez seja exagerado, pois por mais que sua escrita seja verdadeira e espontânea é natural sonhar com o reconhecimento, que, na área em questão, só se dá com o livro impresso. Por outro lado, conheço alguém que dá muito crédito aos livros virtuais, e realmente aposta na publicação independente. Ele é o Henry Alfred Bugalho, escritor brasileiro residente nos Estados Unidos, autor de várias obras lançadas de maneira autônoma, em formato digital. O grande problema desse tipo de publicação é que estão na contramão da lógica capitalista de mercado. Não desaprovo iniciativas com a do Henry, pois eu mesmo já lancei um livro eletrônico. Só acredito que o status quo se mantenha, ao menos pelo próximos anos.

JIVM – Uma pergunta óbvia, mas de suma importância para um autor em formação. Quais são seus escritores referenciais. E desses autores, quais obras foram mais representativas?

CR – Gosto muito de uma frase do meu amigo e poeta Georgio Rios, que diz "alguns clichês são necessários". Impossível não falar das referências. O problema em meu caso é que não há muitas. Meu interesse e produção poética são recentíssimos, sempre preferindo antes as formas em prosa. Meu despertar para a poesia seguiu um rumo que é o contrário do padrão: começa-se a escrever depois de encantado com uma obra de um grande autor, e a tendência é imitar em algum grau essa referência. Eu não segui esse caminho. Comecei a fazer poesia por conta própria, um processo meio ególatra e auto-reforçador. A escolha por não ler os grandes autores foi deliberada. Não queria de modo algum parecer com alguém, pois acredito que invariavelmente incorporamos traços do que gostamos, e em dois mil anos de poesia está cada vez mais difícil ser original. Hoje, com um mínimo de maturidade poética, faço leituras mais produtivas. Leio o que quero, me apaixono, critico. Tenho uma mente mais aberta e não-formatada. Há um sujeito, no entanto, que sempre foi uma pedra no meio do caminho, o próprio Drummond, cuja poesia sempre admirei. Leminski também foi um marco para mim. Quando descobri sua obra, mais do que encanto, me identifiquei com seus poemas, o que me encorajou bastante a continuar escrevendo o que escrevia, do modo que escrevia.

JIVM – Deixe registradas as suas impressões sobre os rumos que a sua poesia vem tomando. E o que teremos para adiante? Algum livro para ser publicado? O que mais?

CR – Percebo que tenho amadurecido a escrita. É a grande coisa que consigo perceber sobre mim mesmo. Como não sou poeta por ofício, tenho liberdade de experimentar e escrever. Porém livre-arbítrio não é palavra de ordem para mim. O que sou hoje é condição do que já vivi, e a característica da observação é o que me marca. Os rumos que minha poesia tomará depende de como a vida passará para mim e como irei absorver os eventos que virão. Acho que no fundo, entretanto, sempre vou escrever sobre a condição do homem, o enigma da (in)existência, como prefiro chamar. Deixando as especulações e impressões de lado, para 2010 planejo organizar alguns de meus poemas e enviá-los a alguma editora. Há também uma antologia de minicontos para ser publicada, com a minha participação, e pretendo finalizar um volume de contos breves. Obviamente, espero continuar escrevendo e tendo idéias. No mais, gostaria de agradecer pelo espaço e oportunidade de voz aqui no blogue. Também, não poderia deixar de lado o apoio do amigo Georgio, que acreditou no que escrevia desde os primeiros versos. E aos meus leitores deixo o agradecimento pela crítica e comentários. Obrigado a todos.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

O Cavaleiro de Fogo entrevista Caio Rudá


Foi ao ar uma entrevista que concedi ao poeta José Inácio Vieira de Melo, ícone na moderna poesia baiana, em seu blogue. Sugiro que passem pelo canto do Inácio para poderem conferir não só entrevista mas o trabalho do Cavaleiro de Fogo.

Eis o link:
http://jivmcavaleirodefogo.blogspot.com/


Como forma de agradecimento, deixo a exclusividade da entrevista, por enquanto, para o blogue do José Inácio. Assim, quem quiser conferir minha oportunidade de voz que conheçam também os poemas e projetos desse cabra.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Cena no quarto

Bodegón con botella de Burdeos, Juan Gris

Se o rapaz já era dado a exprimir seus pensamentos sem que passassem pela censura, que em algum canto do cérebro habita, antes de chegarem às cordas vocais, língua e músculos da fala os impulsos elétricos, o vinho o faz menos ainda um adpeto da repreensão própria, e mais rápido do que do gole ao estômago, chegará a ideia em estado bruto aos ouvidos desta figura feminina que o acompanha. E antes seja que ele lance alguma cantada devassa, uma insinuação vulgar, sendo ainda possível preservar alguma dignidade desta que o acompanha, pois embora não merecedora de cuidados ou requintes no dirigir-se-lhe a palavra, como de habitual a moças distintas, sobra-lhe um mínimo de honra enquanto ser humano, já que na qualidade de mulher, já foi dito, lhe é dispensável. Mas este rapaz já não tem controle de si, do que fala, tampouco de seus reflexos, e se o que ele está próximo de proferir não for demasiado ofensivo a esta que lhe suga o órgão, ainda assim sua noite não será de êxito na cama, já que sabemos que dificilmente lhe escapará fluido do corpo, e em seu lugar, escapará o repugnante resultado da mistura em bucho do que tenha entrado, sabidamente hoje apenas uma lasanha e vinho, vinho, vinho. Boa-sorte, são votos, a esta que continua o ato de felação, mas a baixeza do rapaz não se limita, e dá o indesejado imaginado: um gesto desvairado que derruba a garrafa de um tinto, do criado-mudo à cama, o rouge a tomar lençois e formar uma lenta cachoeira da beirada da cama ao chão. A seguir, interrompe-se tudo bruscamente, também assim o foi o supetão desta a quem é dito que limpe tudo e busque uma garrafa lá mesmo de onde retirara a primeira, que não lamente nem se preocupe do prejuízo, que o vinho é tão barato quanto o é esta que engole lágrimas.