segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Nascimento de um heterónimo

 Narcissus, Vladimir Kush

Diferentemente do meu ortónimo, a mim me calha o que me dá na veneta. Escrevo o que me vem à mente, sem importar-me muito com os resultados. Creio pois que o superego, ou coisa que o valha, venha antes do que penso de modo que o que penso já foi previamente censurado, assim não careço de me ocupar com culpas morais. Ou para penetrar muito mais profanamente o sagrado templo lacaniano da psicanálise ouso dizer que em mim superego e ego são uma só coisa. Se tal coisa é possível, se, mais, tais conceitos abrangem, válido lembrar, um real funcionamento do aparelho psíquico humano. E lá me vou por estas incursões pretensas de filosofia. Resquícios. Ora, para ser-lhes honesto, confesso que é difícil desconstranger-me dele. Compartilhamos muita coisa, paixão pela escrita, pela língua, pela divagação. Em tempos globalizados e reforma ortográfica, uma mescla lexico-diacrítica, uma confusão sintática. Não dessa vez. Sou apenas um punhado de energia criativa.
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sábado, 18 de setembro de 2010

Olé!

Palenque de los Moros Hecho con Burros para Defenderse del Toro Embolad, Francisco José de Goya y Lucientes
 
Ultimamente, tenho lido, como em pequenas refeições durante o dia, a coletânea de crônicas gastronômicas A rainha que virou pizza, do jornalista J. A. Dias Lopes, editor da revista especializada Gula e autor da coluna Paladar n'O Estado de São Paulo. O livro reúne os textos publicados em ambos os veículos que assina, dispostos em ordem cronologica e traçando uma história da civilização ocidental em termos culinários.

São rememorados grandes nomes da nobreza europeia e também das Artes. O excerto abaixo é de uma crônica da qual não escapam os nomes de Goya, Picasso, García Lorca e Hemingway em apoio ao que em seguida se narra:

Segundo o livro Las rutas del toro em andaluzia, as touradas espanholas rendem oito milhões de quilos de carno por ano. Parece exagerado. Entretanto, levando-se o número a sério chagamos a uma conclusão surpreendente. Cada touro pesa em torno de 520 quilos. Perde metade no abate. Portanto, fica com 260 quilos. A seguir, são decartados cerca de 65 quilos de osso. Sobram mais ou menos 190 quilos de carne. Feitas as contas de maneira generalizada, os toureiros espanhois matam em cada temporada cerca de 42 mil touros. Convennhamos, é muita carne.

 LOPES, J. A. D. A Rainha que Virou Pizza. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2007.
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