quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Silêncio – o espetáculo vai começar!

 Capa do livro Modus Operandi

 A poesia de Georgio Rios primeiro ouvi em música. E com música ele te presenteia, leitor, com seu modus operandi.

Dizem a música contém poesia, mas também a poesia contém música – tens em mão, leitor, prova irrefutável disso. Ceci n’est pás un livre, diria Magritte, mas um concerto, uma ópera, uma ária, uma rapsódia. O leitor passa a ser ouvinte. Abre as páginas e te deixa escutar a melodia das flores de hastes decepadas, das estradas secretas que descendem dos olhos distantes. E mesmo quando os sons não se encontram, não fazem rima, são dodecafônicos, sentimos a melodia, ouvimos a semântica dos seus versos. Georgio faz som não só de fonemas, mas das representações mentais que os versos evocam. Tudo convoca a sonoridade: o vento, o digladiar; tudo tem um bramir: os gatos miando, o apito do guardinha, gargantas, palavras, a máquina. Tocam-se os címbalos e violinos. Ruído oco do lápis em contato com o papel, sobre uma superfície de madeira. Temos de ouvir. Ler é ouvir. Não houve silêncio nessas páginas, ouve o silêncio.

Para esse poeta do interior baiano, a música tem músculos, a pedra tem som, as telhas conversam, pensamentos latem e a música é carbônica.


Para conferir mais do trabalho do poeta, http://www.georgiorios.com/.
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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Livros e leituras

Pillowbook, Kush

Ano novo, livros novos, e mal entramos em 2011 já tenho alguns na cabeceira. Em verdade, entre o fechar de um ano e o suceder de outro, estava eu com a leitura de Cada homem é uma raça, de Mia Couto, o que faz totalizar cinquenta livros e meio lidos nos últimos doze meses. Queria aqui compartilhar essa minha lista, que, das cujas, das mais heterogêneas. Enquanto critérios, gosto, acaso, necessidade, disponibilidade, obrigação e tempo. Comentários acerca, para os que derem na telha. E cronologicamente, sem muito rigor catalográfico, contudo, são:

1. A lista de Schindler, Thomas Heneally
Obra que inspirou o filme homônimo de Spielberg, emociona tanto quanto o filme;
2. As camas e os cães, de Adelice Souza
Daqueles excelentes negócios do tipo barato num sebo e muito bom ao fechar da último página;
3. Ensaios e Anseios Crípticos, Paulo Leminski.
Um dos melhores livros que já li;
4. O evangelho segundo Jesus Cristo, do eterno Saramago
Numa palavra, excepcional;
5. Caim, de novo Saramago
Curto, veloz, directo, mas sem perder o brilhantismo;
6. Periferias, Carlos Quiroga;
7. D'antes, Ricardo Thadeu;
Livro de estreia do companheiro de sempre, poeta de qualidade;
8. Depois da chuva, Georgio Rios;
Outro companheiro, poeta de fato e dos fatos;
9. A revoada, García Marquez;
10. Primeiro de Maio, Marisa Lajolo (org.)
Coletânea de contos sobre o trabalhador, a partir da qual conheci a excelente prosa adulta de Monteiro Lobato;
11. Como fazer versos, Vladimir Maiakovski
Primeiro contato com esse gigante da poesia mundial. Muito me abriu os olhos para o fazer poético;
12. Sobre Arte Sobre Poesia, Ferreira Gullar
Textos sobre Arte desse poeta sem igual;
13. Aprender a viver, do filósofo francês Luc Ferry
Uma boa introdução à filosofia;
14. Jesus A.C, Paulo Leminski;
15. Histórias com Matisse, A. S. Byatt;
16. O misterioso sr. Quin, Agatha Christie
Foge um pouco do usual da autora. Sem perder a pegada policial, algo de sobrenatural;
17. O canto de Alvorada, Aleilton Fonseca
Uma das melhores leituras de 2010. Prosa leve e sofisticada, gostosa;
18. Maiakovski: vida e obra, Fernando Peixoto
Um pouco sobre a vida dessa figura ímpar;
19. Alguma poesia, Carlos Drummond de Andrade
A estreia desse moço, donde vêm uns de seus melhores poemas;
20. Brejo das almas, C.D.A;
21. Sentimento do mundo, C.D.A;
22. José, C.D.A;
23. Diário de um fescenino, Rubem Fonseca;
24. O conto da ilha desconhecida, Saramago;
25. As intermitências da morte, Saramago;
Outra obra fenomenal. Leitura instigante, apurada. Impossível ser o mesmo depois de ler.;
26. O livro das ignorãças, Manoel de Barros;
27. A casa dos budas ditosos, João Ubaldo Ribeiro
Um de meus autores favoritos, para mim o narrador de fato. Provocante;
28. Recordações de andar exausto, Mayrant Gallo
Livro que merece atenção;
29. Rugurgitofafia, Michel Melamed
Texto para a peça homônima, a que assisti primeiro. Saí do teatro encantado. Li pra repetir o prazer;
30. Dentro da noite veloz, Ferreira Gullar;
Divide com Poema Sujo o título de obra-prima desse mestre. Inigualável;
31. Crônica de uma morte anunciada, García Marquez;
32. Mundos Sujos, José Latour, escritor cubano;
33. Capitalismo parasitário, Zygmunt Bauman
Prolixo, mas fundamental
34. Durantes, Ricardo Thadeu.
35. A rainha que virou pizza, J. A. Dias Lopes
Excelente reunião de crônicas sobre culinária-e-história;
36. A ideologia alemã, Marx e Engels;
37. O livro das drogas, Antonio Escohotado;
38. O largo da Palma, Adonias Filho;
39. Memórias do subsolo, Fiódor Dostoiévski;
40. Reflexões sobre a Arte, Alfredo Bosi;
41. O que é beleza?, Duarte Jr;
42. As revoluções russas e o socialismo soviético, Daniel Arão Reios Filho;
43. Os desafios da terapia, Irvin Yalom;
44. Cada dia sobre a terra, Marcus Vinícius;
45. Futurismo, Sylvia Martin
Sobre tal movimento de vanguarda europeia;
46. O presidente negro, Monteiro Lobato
Prosa envolvente, faz do leitor espectador. Me deixou um tanto encucado;
47. A morte de Ivan Ilitch, Lev Tolstoi;
48. O mito de Sísifo, Albert Camus;
49. Relações literárias e culturais entre Rússia e Brasil, Leonid Shur
50. Em plena noite ou o bluff surrealista, Amtonin Artaud

Que em 2011 sejam 100 leituras!
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