sexta-feira, 25 de março de 2011

Traduzindo Maiakovski

 Ночь на Черном море, Иван Айвазовский 
Noite no mar negro, Ivan Aivazovski

Noite de lua

Sobe a lua.
Já estará
em pouco.
E ei-la robusta pendurada no céu.
É deus, deve ser,
maravilhosa
colher de prata
tateando na sopa de peixe de estrelas.

Tentei a tradução de um pequeno poema de Maiakovski (Лунная ночь, Lunnaia Notchi), aparentemente deixado de lado pelos irmãos Campos, principais tradutores da obra do poeta russo aqui no Brasil, a despeito de ser daqueles de paixão à primeira leitura.
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sábado, 5 de março de 2011

A Sonata a Kreutzer

 La Sonate à Kreutzer, René Prinet

Daí procedem estes abjetos tecidos de malha, estes babados sobre os traseiros, estes ombros e braços nus, estes peitos quase despidos. As mulheres, sobretudo as que passaram pela escola dos homens, sabem muito bem que as conversas sobre assuntos elevados não passam realmente de conversas, e que o homem precisa do corpo e de tudo o que o exibe sob a luz mais atraente; e é justamente o que se faz. (...) E a instrução da mulher corresponderá sempre à maneira pela qual o homem a encara. Bem que todos nós sabemos como o homem encara a mulher: "Wein, Weiber und Gesang" (vinho, mulher e canção), e o mesmo dizem os poetas em seus versos.  Veja toda a poesia, toda a pintura, toda a escultura, a começar pelos versos de amor e pelas Vênus e Frineias despidas, o senhor vê que a mulher é um instrumento de prazer (...) Não, a princípio, os cavaleiros afirmavam venerar a mulher (veneravam, mas assim mesmo olhavam-nam com um instrumento de prazer). E agora asseguram que respeitam a mulher (...) Fazem tudo isso, mas o modo de encará-la é sempre o mesmo. Ela é um instrumento de prazer. O seu corpo é um meio de prazer. E ela sabe isso.

A Sonata a Kreutzer, um dos melhores livros que li ultimamente, um romance que de forma impecável trata da questão do ciúme, da infidelidade e das relações amorosas. Se o ponto de vista acerca desses temas defendidos por Tolstoi, o personagem Pódznichev enquanto porta-voz, pode não agradar, é inquestionável, por outro lado, a perícia como o leitor é levado a conhecer o íntimo de um homem perturbado pela seu peculiar modo de encarar a relação homem-mulher e tomado de ciúme pela esposa. Boris Schnaiderman, tradutor da obra, em seu posfácio, é um dos que não aceitam "o que Tolstói diz aí sobre a relação entre os sexos", ou questionam a legitimidade das ideias nos dias atuais. Eu, entretanto, senti muita atualidade no que é levantado sobre o amor e como as pessoas encaram-no agora, especialmente porque a hipocrisia humana é a mesma seja na Rússia do século XIX ou no mundo globalizado de hoje.
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