terça-feira, 5 de junho de 2012

Odisseia


Ulysses deriding Polyphemus - Homer's Odyssey, William Turner


I. Eis

A moça bonita do porto seguro,
bem moça, bem bonita.
De beleza indesdita,
a moça bonita do porto seguro.

Um jovem navegante
capitaneando uma nau à deriva
no mar de si mesmo, mar morto
em cujo convés sujo, leme torto.

Ondas altas, um Nereu revolto.
Caos no mar: — Capitão,
não fuja, há de navegar
até encontrar águas serenas e fazer porto.

II. Salvação

Guiado pelo Acaso, nosso Capitão,
já desmaiado, por milagre não morto,
encontra calmaria em bendito porto
e se deixa ficar, dispensa tripulação.

Habita-o, elege-o sua conquista.
Ao redor tudo é calmaria,
sabe deus por que diabo deixaria
lugar firme e confiado.

III. Partida

Içou velas, partiu rumo ao desconhecido
que nem pioneiro das grandes navegações.
Tudo encontrado foram terras vãs.

IV. Retorno

Na tentativa do retorno, ventos perturbados
dos quatro, dezesseis, quantos fossem os lados.
— Odisseu não é teu nome, Capitão.

V. Naufrágio

Foi a pique, assim sem tempestade nem coral.
Soçobrou e pereceu no fundo do mar,
só porque já não tinha mais onde aportar.
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