terça-feira, 20 de novembro de 2012

The dark side of the moon

Natt i St. Cloud, Edvard Munch

Salvador, madrugada.
Vintesseis de outubro,
três milhões de habitantes sem energia.

Entre esses milhões, eu,
não menos escureado que qualquer um deles,
por cuja janela entra a única fonte de luz
em toda a baía de todos os santos,
aos quais, por sinal, não adianta apelo.
Há muito suas santidades já não atendem por essas bandas.

Os cães se calam,
e sem os latidos que transformava em versos
agora não há mais matéria poética.
Nem o violão tímido sem a quarta corda
nem os rumores de vozes
cada vez mais distantes e fatigadas,
tampouco o luar branco que chega,
desgastado de tantos poemas.
Míngua de sons, cores e fatos.

Lamento a inevitabilidade do aprisionamento instrospectivo.
É quando as formas das ideias ganham mais contorno,
entre a penumbra e a escuridão. Eis tudo mais claro:
os olhos que não fechei,
a casa ermitã que já habitei
e seus trinteidois cantos que não alcançarei.