O ovo da ema, Carybé
Las Manos (Carybé)
Profusas rachaduras ressequidas
da terra devastada em tua face
acusam de fugaz e rude a vida
dos homens, das mulheres, das cidades.
Ai de nós a teus olhos de Guernica,
que a tudo viram, nada mais assombra.
Talvez nosso borgeano olhar persiga
zarolhamento a cor de tua sombra.
No verso o olhar comum só vê palavras,
mas tu, que danças tango feito samba,
mestre das artes, viste luz e graça.
Ah, Bahia, ferrada a nu mulata
aos pés de teus pincéis de argêntea lança,
baiano Don Quijote de la Plata!
Quando li os primeiros poemas do livro Mais que sempre, de Luís Antonio Cajazeira Ramos, eu pensei precisar de um bloco para anotar vários de seus versos. À medida que lia, decidi que melhor seria tê-lo o próprio livro como esse caderno de citações, pois toda a obra é uma coleção de destaque. Particularmente, divido-a entre poemas brilhantes, bons e os que não sou capaz de compreender. Sua forma predileta é o soneto, e o faz com a naturalidade de quem realmente domina o ofício, exerce-a como profissão de fé. Certamente inveja o ourives quando escreve, labor cujo resultado é o ouro mais puro. Todo esse artifício é notório na poesia de Cajazeira, cuja propriedade retórica é ímpar entre os poetas de hoje. Tem sobre as palavras o mesmo domínio do músico sobre seu instrumento, um virtuose. Versa sobretudo o amor, também a vida, a morte, o ato poético, versa o verso. Eis uma leitura exemplo do paradoxo do hedonismo: quanto mais se avança, vorazmente, no que é bom, menos se lhe tem.
RAMOS, Luís Antonio Cajazeira. Mais que sempre.
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E ele diz que o "o soneto lhe vem...". Esse sim é um dom invejável.
ResponderExcluirCajazeira está na minha lista de favoritos a muito tempo.
Abraço
ele faz por merecer, fabrício.
ResponderExcluirabs.
Gosto das poesias por isso sempre venho aqui ler um pouco para me distrair
ResponderExcluirJá te sigo ha algum tempo.
poesia é sempre uma boa distração, entre outras coisas.
ResponderExcluirCajazeira é o poeta sem obviedades!
ResponderExcluir"Irremediavelmente livre"
quase dando teia de aranha por aqui...
ResponderExcluirtá sem inspiração ou parou de escrever mesmo?
Ass: leitora intermitente
Vamo produzir meu fio.
essas leitoras anônimas que me aparecem sempre intrigam. bem, parei de escrever por hora, falta-me tempo, pois inspiração até tenho tido.
ResponderExcluirem breve aparecerá algo aqui...
Assim espero Sir literato.
ResponderExcluiresses povo agreste de Riachão,
ai ai
Ainda esnoba:
"falta-me tempo": um verdadeiro executivo operante em Bolsa, k.
Sou leitora anônima não minino,
sou tua eterna amiga espiritual. Esqceu foi?
Abç, criança.