terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Ontologia do poeta

El poeta, Fernando Botero

O poeta pode abandonar seu ofício,
mas o ofício nunca abandona o poeta.

É que ele pode recusar-se a escrever,
mas irá pensar, sentir e sofrer
em versos,

irá dividir sua vida em estrofes,
rimar gotas de chuva com hélices de ventilador
e, sem se dar conta,
sua vida é um poema épico

e o que antes era casual,
agora invertem-se duas letras,
é princípio, razão.

Que fazer, então?
Não lhe reconhecem a profissão,
pensam-no um fanfarrão.

A despeito disso, não consegue
livrar-se do engrama,

é o eterno gauche na vida.

Ser poeta não qualifica, confunde.
São regras básicas para o jogo
ser sem essência, conhecer sem ciência.

No gozo do descrédito
é que ele se lambuza,
das palavras abusa
para edificar um mundo
sob olhares atravessados
sem argamassa ou tijolos.

Apenas superfícies e rococós,
alicerces de uma vida vazia.

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