domingo, 17 de fevereiro de 2008

Dos rumos que a vida toma

Em 28 de janeiro de 1808, o então príncipe regente de Portugal, D. João VI, decretou a abertura dos portos às nações amigas. Em 28 de janeiro de 1856, foi fundado o Banco da Espanha, e 31 anos depois, à mesma data, foi colocada a primeira pedra da Torre Eiffel, símbolo mundialmente conhecido da capital francesa. Também em 28 de janeiro, desta vez em 1935, polêmica criou-se quando a Islândia tornou-se o primeiro país a legalizar o aborto. Tragédias também incorporam o rol dos acontecimentos do 28 de janeiro; em 1986, 73 segundos após seu lançamento, explodiu a espaçonave Challenger, matando 7 pessoas.

Nasceram, a 28 de janeiro, o rei Henrique VI da Inglaterra (1457-1509), o papa Clemente IX (1600-1667), o apresentador Raul Gil (1938), o badalado presidente francês Nicolas Sarkozy (1955), o jogador senegalês Papa Bouba Diop (1978), o ator Elijah Wood, que interpretou o sr. Frodo no filme O Senhor dos Anéis (1981) e minha prima Laurence (1991).

Qual seria, portanto, o marco de 28 de janeiro de 2008, apenas mais um dia em que você, leitor, ficou em casa navegando por horas a fio na internet lendo blogs de alguns desocupados - como o meu, ou saiu para passear com seu amor, tomar um sorvete, andar na praça, ou simplesmente procedeu conforme a rotina, acordando já com as mesmas obrigações a torturar-lhe a mente e indo dormir estressado com os acontecimentos de um dia ordinariamente ordinário?

Para quem lhes escreve, 28 janeiro foi o dia em que um resultado, mas especificamente o do vestibular da UFBA, veio implacável, trazendo consigo todas as emoções que só uma aprovação num bom curso de Ensino Superior podem oferecer. Envolto em mitos e visões deturpadas, eis que a vasta área da Psicologia me aguarda, apontando, desde já, a faca de dois (ou até mais) gumes que será estudá-la.

Passada a infância, quando se quer ser, no caso de um menino, jogador de futebol, astronauta ou cientista, a Psicologia começou, little by little, a constar como opção de carreira. Não sei se o que mais me fascinava era aquela visão do exercer o trabalho de psicólogo, com direito a um escritório com livros a perder de vista, divã, almofadas, quadros e esculturas, criando uma atmosfera de introspecção, ou a Psicologia em si em seu amplo e atraente campo de atuação, ou mesmo a esperança de uma resposta - por um distante, tortuoso e obscuro caminho - para a vida.

O certo é que cresci respondendo "psicólogo", sempre que me perguntavam qual seria minha profissão. É difícil dizer se eu tinha toda essa determinação, ou se essa resposta já obedecia à lei da acomodação, pela qual isentava-me de pensar, e dava uma resposta direta, rápida. Na hora da decisão, balancei quanto ao que queria de fato. Chuva de "se", "por que", "será"e "tomara". Inconstâncias à parte, fortemente influenciadas pela recente descoberta das maravilhas das Letras, acabei optando definitivamente pela área onde já brilharam Jung, Watson e Freud. Talvez não seja próprio dizer, mas Psicologia era e ainda é um sonho, mesmo que, às vezes, tomados por insegurança.

Infelizmente, a aceitação e busca desse sonho estão incondicionalmente ligado a um fato, senão horrível, incômodo: a interrupção abrupta de uma vida no interior para a inserção selvageria de uma metrópole. Ficarão distantes uma família, amizades, uma namorada e uma rotina que, por mais chata que eu a tenha chamado durante todos esses dias, vai me fazer muita falta. Não cabe destacar, entretanto, todos os pormenores, contratempos e problemas que fazem parte da (sub)vida de um universitário longe de casa. Difícil, mas necessário. Esse é o lema, o retrato da situação.

Ainda me falta uma semana de vida pré-28-de-janeiro-de-2008. Vida que está, em parte, registrada aqui. Talvez, nessa vida pós-28-de-janeiro-de-2008, o Das Idéias de Caio Rudá passe de blog a museu...