quarta-feira, 30 de abril de 2008

Primeiros passos em Filosofia

La Conquista del Filosofo, Giorgio de Chirico

Dois meses já se foram sem que ao menos um post aparecesse. Não se trata de descaso com o blog (não mesmo, afinal não seria digno comigo mesmo boicotar uma das poucas coisas de útil que já fiz). É que faculdade é coisa séria e consome um bom tempo de um pobre estudante.

Se por um lado acabei, em parte, com minha vida social e reduzi minhas opções de lazer - e olha que ainda não comecei a estudar de fato -, por outro pude entrar no meio acadêmico, esse que irá me dar, daqui para frente, um pouco mais de conhecimento para escrever my crappy ideas.

Uma das disciplinas que agora fazem parte da minha rotina e que contribuirão com esse conhecimento, e cuja maravilha que é estudá-la não havia percebido até então com aqueles breves e infelizes contatos preliminares de Ensino Médio ou com os jargões mais famosos, como o "cogito ergo sum" ou "penso, logo existo" de Descartes, e que contribuirá, direta ou indiretamente, é a Filosofia.

Como já dito, essas primeiras experiências não foram muitos satisfatórias. Nada fazia brilhar os pensamentos filosóficos, e assim iam permanecendo além do meu alcance. Seu caráter esotérico, o qual eu fazia questão de manter, mesmo sem querer, contribuía com a construção de sua abstrusidade. Não que ela não o seja. Com efeito, ainda há muito que permanece, à primeira vista, incompreensível, enigmático, porém a base do conhecimento filosófico, e isso é importante, é de fácil compreensão, para não dizer cotidiano. É por isso que o filósofo britânico David Hume afirma que é certo o fato de que a filosofia simples e acessível terá sempre preferência sobre a filosofia exata e abstrusa. A grosso modo, seria possível ver o conhecimento filosófico sob duas óticas distintas, a fácil e a difícil, a simples e a complexa, a cotidiana e a afastada.

Deixando de lado, a difícil, complexa e distante filosofia, pode-se ver com clareza sua proposta mais básica e essencial: a da salvação. Esse é o termo empregado por Luc Ferry, em sua obra Aprender a Viver, a qual "demonstra que a filosofia não é um mero exercício da reflexão crítica (o que mais se aproxima da versão difícil, complexa, afastada). É uma busca de saúde, da vida boa, uma tentativa de salvar nossa própria pele". Sim, porque é inerente ao homem a busca por esses elementos. As formas de fazê-lo é que são as mais diversas, e o exercício filosófico configura-se como apenas mais uma delas.

Essa salvação proposta por Ferry não se limita, portanto, ao sentido religioso da felicidade eterna. Está ligada também à compreensão do mundo e da vida, ao apaziguamento das angústias provocadas pela finitude e irreversibilidade da existência humana. Eis, então, dois conceitos essenciais para o entendimento dessa teoria da salvação, pois são, respectivamente, a morte e a impossibilidade de reversão dos acontecimentos passados os grandes causadores da aflição humana. Desse jeito, vista como a medicina da alma, a filosofia é uma doutrina que nos faz "compreeder que a morte não deve amedrontar", dizia Epicuro. Ela é uma saída para o indivíduo através de si mesmo e do uso de sua razão.

Assim, ao longo dos séculos, a filosofia, muito embora tenha se encarregado de trabalhar com temas mais complexos, preservou a característica básica de salvação, ou seja, de busca por uma vida melhor. Sabendo isso é que agora, para mim, a filosofia perdeu aquela carapaça abstrusa e impenetrável, a qual foi substituída por uma membrana fina, de simples transposição, cujo mediador é unica e simplesmente a vontade de pensar a vida.