segunda-feira, 21 de julho de 2008

Ao Sr. Schopenhauer


Arthur Schopenhauer, Ludwig Sigismund Ruhl

Caro Sr. Schopenhauer, antes de mais nada quero registrar a necessidade de escrever-lhe diretamente. Este documento, entretanto, tem lá sua importância e por isso é possível que aguce a curiosidade alheia. Não me surpreenderia, portanto, que viesse a cair em mãos que não as suas, mas afirmo veemente que a pendência é entre nós dois, um gigante do século XIX e um zé-ninguém dos anos 2000.

Escrevo na certeza de uma resposta, pois sei que para o senhor, dotado de inúmeras qualidades, auto-reconhecidas e auto-exaltadas, os obstáculos que impedem nossa comunicação são facilmente superáveis. Não tenho dúvidas de que um profundo conhecedor e estudioso de línguas, como o senhor, tem o meu humilde português como mais um item em seu vasto repertório de idiomas, mas se por acaso faltar-lhe a ciência sobre a “última flor do Lácio”, estou certo de que seu raciocínio agudo e sagaz, juntamente com o conhecimento do Latim e até mesmo de outras línguas que Dele derivam, farão do senhor um hábil leitor. Espero que, ao escrever Latim em letra capital ressaltando Sua superioridade ante esses dialetos que hoje a Europa conhece como línguas nacionais, perceba meu respeito pelas suas idéias e leia-me com alguma atenção.

Se o senhor foi assaz condescendente para iniciar e continuar a corrente leitura até aqui, seria sensato de sua parte aceitar minhas devias escusas por não dirigir-lhe a palavra em Alemão, esse idioma soberano, embora não-clássico, e também por talvez estar sendo confuso e mesmo ininteligível. Não é que eu queria forçar um estilo. Com toda a sinceridade, afirmo-lhe que tento ser o mais natural e breve possível.

Voltando à questão das barreiras que nos separam, a única que me fez hesitar antes da escrita dessa mensagem foi o fato de o senhor estar morto. Obviamente, considero que o esteja de fato, afinal, se de alguma maneira tivesse descoberto o segredo da vida longa e vivesse nos dias de hoje, por certo não estaria se escondendo, às sombras ou vivendo no anonimato. Primeiro, porque o anonimato lhe causa ojeriza e, depois, porque é de sua natureza exibir-se.

Pois bem, agora vamos ao âmago de minha contestação. Recentemente, entrei no mundo de suas idéias através do brilhante Parerga e Paraliponema. Na verdade, não fiz a leitura completa da obra, mas apenas dos escritos relacionados à literatura, língua e erudição. Cito-os aqui: “Sobre a erudição e os eruditos”, “Pensar por si mesmo”, “Sobre a escrita e o estilo”, “Sobre a leitura e os livros” e “Sobre a linguagem e as palavras”.

Diversas foram as minhas considerações e opiniões acerca dos textos a que me refiro, ora concordando, ora encontrando algumas divergências. Eu poderia enumerar diversos tópicos para debate, mas seria desnecessário, além de trabalhoso. Questões válidas, no entanto, e muito interessantes. Assim, vou me centrar nos pontos que mais me chamaram a atenção quando da leitura desses textos.

O primeiro deles é o mau-humor crônico que lhe é característico. Esse quadro de rabugice eterna na verdade é um transtorno psiquiátrico conhecido como distimia. Muito provavelmente o senhor foi um distímico, um sujeito amargo, que reclamou de tudo e só viu angústias e infortúnios mesmo no mais belo nascer do sol. Por isso tenho lá minhas dúvidas sobre sua causa mortis. Pobre, Schop! Acho que mentiram para o senhor. Disseram-lhe pneumonia em vez de infarto ou AVC, sei lá... algo provocado por toda a amargura guardada e também pelas despejadas em seus escritos.

Não me entenda mal. Não estou criticando seu mau humor. Pelo contrário, ele é sua marca. Ele é você e você é ele. Não existiria Schopenhauer sem mau humor e vice-versa. Sabe, deixe-me contar uma história. Os novos dicionários da língua portuguesa adicionaram o verbete Schopenhauer, ou Chopenrrauer (aportuguesado). Adivinha o que ele significa? (risos) Brincadeira, viu Schop? Só para descontrair. Ah, desculpe. Você não sabe o que é isso (risos). Outra piada. Agora que estamos mais íntimos, que criei um clima mais amigo, vou chamá-lo de Schop. Pode ser?

Então, como eu ia dizendo, o chopen... digo, o mau-humor é sua marca. Não haveria graça em lê-lo se não tivéssemos que imaginar qual seria o próximo xingamento para alguns de seus adversários. Ah, Schop, você precisa ver como está o mundo moderno. Sabia que suas idéias hoje são bastante influentes? Acredita que recentemente criaram um curso de "como denegrir a imagem do seu inimigo com classe"? Apostilas baseadas em sua obra.

O outro fato que me levantou uma tremenda curiosidade foi como você tem tanto conhecimento acumulado. Além de um grande pensador, foi um poliglota sem igual. Latim, grego clássico, sânscrito, inglês, francês, italiano e espanhol, além do materno Alemão. Essas são as que nos foram permitidas saber. Não me espantaria que houvesse mais algumas a citar. Mas o que me intriga não é que você tenha todo esse conhecimento, afinal de uma mente brilhante tudo se espera, e sim como você o adquiriu sem tanta leitura. Sim, porque "as pessoas que passam suas vidas lendo e tiram sua sabedoria dos livros são semelhantes àquelas que, a partir de muitas descrições de viagens, têm informações precisas a respeito de um país (...) no fundo não dispõem de nenhum conhecimento coerente", em suas próprias palavras. Só posso concluir que você nunca foi apegado a leitura, especialmente a de má qualidade. Então fica a curiosidade de como vieram as aulas de idiomas que nos dá em Parerga e Paraliponema. Já nessa época você era agraciado com o dom da violação do tempo e conseguia retrocedor em séculos e mais séculos para adquirir as noções de latim e grego?

Ainda sobre idiomas, outra curiosidade. Qual o problema com os "repulsivos sons nasais"? Tudo bem que os alemães nunca se deram bem com os franceses, o que lhe dá motivos para desmerecer a língua dos gauleses, mas que, pelo menos, se atenha às características peculiares do falar desse povo. Eu, como lusófono, me ofendi com essa declaração de ódio aos belos sons nasais. Seria despeito por não saber pronunciá-los corretamente? Nesse ponto, você foi infeliz.

E para finalizar, que a carta está ficando muito extensa, só queria cutucá-lo mais uma vez: você falou mal de Deus e o mundo, atirou pedras aos sete cantos do mundo e em matéria de literatura foi o crítico mais ferrenho de todos os tempos. Desconsiderou a literatura alemã e mundial de seu período. Nem sua mãe lhe escapou à língua firina. Seriam os escritores da época tão lastimáveis assim? Ou o seu mau humor influenciava até na hora de emitir um juízo sobre a obra alheia, fazendo pouco de tudo o que não lhe apetecia? Talvez você fosse um crítico muito parcial, tomado pela mágoa de ter tido um reconhecimento tardio, em seus últimos anos de vida. Ou talvez os alemães de seu tempo fossem bons comedores de chucrute enquanto escritores mesmo, o que é mais provável, dada sua superioridade diante dos outros seres humanos.

Prometo que agora encerro de verdade. Só aproveitando a deixa do último parágrafo. Olha, aqui vai um conselho de amigo. Você é gênio, cara. Não há como negar. Um homem num patamar acima dos demais. Mas não deixa isso lhe subir à cabeça. Pode pegar mal, causar mal-entendidos. Nunca se sabe. Nem todos compreendem a genialidade.

É isso, Schop! Foi uma mensagem breve e amigável. Queria escrever mais, mas agora devo dedicar-me à reflexão, pensar por mim mesmo. Afinal, nos dias de hoje, ainda dá para fazer isso e mais nada da vida. Leio, penso e cuido do meu cachorro. Sou desocupado mesmo, sou filósofo.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Consulta Médica


На приеме у врача, Владимир Маковский
No médico, Vladimir Makovskii

O doutor:
- O senhor precisa comer ferro. Está com suspeita de anemia.

Nova consulta, raio-x, desenhos estranhos, objetos pequenos, cortantes:
- Mas que diabos. O que aconteceu com o senhor?
- Sabe como é, doutor. O feijão tá caro, o quiabo também...

domingo, 13 de julho de 2008

Rock 'n' who?


Rock-Rock, Richard Lindner

Décadas depois, Roy Blues e Dick Jazz se encontram em um show de alguma banda de pesados acordes distorcidos e melosas letras: sobrancelhas franzidas e uma mútua interrogação.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

1 ano de idéias


Hoje o blog completa 1 ano de idéias. Foi um ano irregular, cheio de altos e baixos, momentos de muitas idéias, outros de sinapses não muito produtivas. Junte-se histórias, críticas, humor (pelo menos na intenção), contos, memes, tentativas, erros, acertos e, ao final de tudo, o amadurecimento.

No primeiro post não sabia direito o que era blog, nem blogar, nem muito menos o que era ser blogueiro. 1 ano se passou e eu continuo sem saber, mas o importante é que aquele primeiro texto bobo, inocente, despretencioso foi o início de um projeto interessante que é o Das Idéias de Caio Rudá.

Esse projeto aos poucos cresceu, ganhou leitores, premiação em concurso (vide menus laterais), selos, e o mais importante: reconhecimento. Pois nada paga um comentário bem elaborado sobre seu texto, a crítica, o elogio, especialmente porque está cada vez mais difícil pessoas que venham ao seu blog só pelo gosto de ler, sem querer a contrapartida da visita.

Em números, são quase 3 mil visitas e cerca 5200 visualizações de páginas. Uma média de 8 pessoas por dia. Além disso, foram 36 postagens, 37 com a presente e 235 comentários. São números modestos, se comparados o outros blogstars, mas dadas as circustâncias do blog, considero boas marcas.

Ah, as circunstâncias, a falta do por que e como fazer. Sim, porque por trás de um blog, há alguém que o escreve, quem lhe dá forma. E esse trabalho não é tão simples assim. É muito fácil ser filial do Youtube, copiar e colar notícias de outras fontes, plagiar outros autores, contar que comeu arroz com batata e depois teve disenteria, colocar uma letra de música e divagar curtindo uma de filósofo. Mas escrever contos, compartilhar crônicas, críticas e outras reflexões demanda tempo.

Pensei em um nome bem abrangente que não limitasse as características do blog ao criá-lo. Daí Das Idéias de CR, pois tudo é idéia, tudo deriva dela. E essa foi a filosofia de escrita no princípio. Contudo, mesmo com essa licença para expor o que quer fosse, com o passar do tempo aprendi a lapidar as idéias e não postar só pelo prazer de fazê-lo.

E assim será: aprendendo, melhorando e se possível agradando, mesmo que somente a um, desde que desse um venha o reconhecimento.