sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Pequeno apontamento sobre Arte

Aвтопортрет в двух измерениях, Казимир Малевич
Autoretrato em duas dimensões, Kazimir Malievitch

Ferreira Gullar, um dos maiores poetas e críticos de arte brasileiros, questiona: “tem a arte de seguir o espírito da época?”. Nesse sentido, ele chega à conclusão de que embora algumas vanguardas européias do início do século XX tenham buscado uma integração do fazer artístico às transformações sociais e econômicas da época, a exemplo do Futurismo e sua fixação na sociedade industrial, outras partiram de e em direção a uma situação completamente oposta: um contraste ou crítica direta, politicamente engajada, às características dessa sociedade nova que surgia – o exemplo do Surrealismo. Uma boa ilustração desse último caso encontra-se em Michael Löwy, a respeito da ligação entre Surrealismo e Marxismo.

A despeito desse debate do condicionamento da Arte à dinâmica social em que está inserida, seja de cunho convergente ou divergente, parece consensual que, embora nenhuma sociedade tenha existido sem produzi-la, e que a atual sociedade ocidental tenha visto um aumento no interesse do cidadão comum pela Arte, além de que também a ela se acoplou a filosofia mercantilista, massificando as produções artísticas, ainda persiste a ideologia da inutilidade da Arte.

Não raramente a Arte é apresentada em oposição ao utilitário; como elemento secundário da vida cotidiana afeita a manifestações pragmáticas. Não poucos são os artistas a categoricamente atentarem contra a sua utilidade. O caso mais famoso talvez seja o do escritor irlandês Oscar Wilde, que no prefácio de seu romance O Retrato de Dorian Gray afirma “toda arte é completamente inútil”. E embora muitas sejam as obras que advoguem em seu favor, ao discorrerem sobre a questão estética, muitos teóricos da Arte, acabam por acentuar essa dicotomia útil versus inútil.

Daí a relevância e insistência do questionamento, qual será o papel da Arte num mundo marcado pela tecnicidade?
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