terça-feira, 2 de outubro de 2007

Dentro de si próprio

Ele não imaginava que seria assim. Jamais pensara que perder o controle da situação seria tão deprimente, e que lhe causaria tanta angústia. Angústia que ele não sabia explicar direito, mas que sentia em cada suspiro seu.

Estando livre de suas obrigações diárias, as quais ele mesmo impusera a si próprio, restou-lhe passar a noite sozinho. Para ele era uma situação estranha, sem dúvidas. Não se pode dizer inédita, porque já passara por isso, mas tão distante acontecera que lhe era quase uma novidade. Ficar sozinho e tirar um tempo para si para muitos é uma ação normal e muitas vezes necessáriaas para ele era algo extraordinário. Acostumara-se a viver intensamente, não necessariamente no sentido da qualidade, mas no da quantidade.

Com o tempo, somou-se a sua ansiedade natural todo aquele espírito jovem que "nunca deixa para amanhã o que se pode fazer hoje". Ele conseguiu desvirtuar a célebre frase de Horácio, carpe diem, de seu puro significado. "Colher o dia", aos latinos, certamente, significava aproveitá-lo da melhor maneira possível, sem deixar nada para trás, e desfruntando de cada simples fato. Evidentemente algo muito diferente de "ocupe sua vida com passatempos constantes". Havia chegado à conclusão, certa vez, de que o silêncio trazia-lhe sensações desagradáveis e a inércia lhe doia na alma. É por isso que vive num ritmo alucinante, sempre tendo o que fazer, a procurar brechas nas quais poderia encaixar mais uma atividade, e esquecendo-se que há uma alma que precisa de descanso às vezes.

Mas dessa vez havia de ser diferente. Fora forçado a aquietar-se, e assim o fez, mesmo contrariando a si próprio. A princípio, estava indo bem. Pensou que talvez estivesse enganado sobre olhar para dentro de si, e realizou que não era tão mau quanto estava acostumado a pensar. Porém, lentamente a madrugada se aproximava, e ela que, até então, era sua companheira fiel, com a qual compartilhava as noites insones, agora parecia amedrontar-lhe. Ele não podia explicar donde vinha esse sentimento angustiante que lhe ia tomando conta. Só sabia que, à medida que o silêncio tornava-se maior, crescia-lhe também o desânimo. Misteriosamente, esse desconforto deixava de pertubar apenas sua mente, para impregnar-se-lhe o peito, como se o coração estivesse sendo esmagado por uma fria e impiedosa mão.

Cada vez mais sentindo-se só, completamente abandonado, sentia falta de poder gozar de tudo aquilo que outrora lhe fazia feliz. Seu amor, sua família, as atividades que fazia com tanto apreço, a música, sua vida completamente peculiar, tudo que, naquele momento, sentia não ser suficientemente confortante. Sabia que depois de uma noite de sono tudo iria voltar a ser como antes. O blues o faria tocar uma guitarra invisível, e a lembrança de um beijo apaixonado estamparia em seu rosto um sorriso embevecido. Mas ele não conseguia sequer dormir. Era muita angústia para poder fechar os olhos e descansar.

A situação configurava-se extremamente desesperadora. Era como se houvesse chegado ao fim de um túnel sem fim, como estar perdido em alguma dimensão que não a nossa, como estar em algum lugar de um espaço sem escalas, ao momento em que as horas nada marcavam. Soube logo que ninguém poderia ajudá-lo naquele momento, e que a ele cabia reverter as circunstâncias. E bastou. Dormiu instantaneamente, como se nada tivesse acontecido. Certamente, ao acordar, ele não se daria conta do que acontecera na noite passada, mas inconscientemente saberia que o desespero é um atalho para a paz, quando se quer encontrá-la.

Um comentário:

  1. Pergunta: pq teu blog tah assim?
    os posts tao pititicos do lado esquerdo? oO

    E muito legal.
    Gosto qndu vc escreve assim.

    =D

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