quinta-feira, 28 de julho de 2011

A queda

 Fortvilelse, Edvard Munch

... Já reparou que só a morte desperta os nossos sentimentos? Como amamos os amigos que acabam de deixar-nos, não acha?! Como admiramos os nossos mestres que já não falam mais, que estão com a boca cheia de terra! A homenagem vem, então, muito naturalmente, essa mesma homenagem que talvez tivessem esperado de nós, durante a vida inteira. Mas sabe por que somos sempre mais justos e mais generosos para com os mortos? A razão é simples. Para com eles, já não há obrigações. Deixam-nos livres, podemos dispor do nosso tempo, encaixar a homenagem entre o coquetel e uma doce amante: em resumo, nas horas vagas...

Dos romances de Camus, talvez o mais filosófico: A queda. Com uma estrutura narrativa inusitada, o romance surge de um diálogo do protagonista com um interlecutor desconhecido, cujo registro unilateral transforma a narração num longo monólogo de confissão e recordações em tom de sermão. Eis a própria raison d'être de  Jean-Baptiste Clamance, narrador, talvez a intenção de Camus ao escrever esse que mais parece um ensaio. Estão em dissertação na obra os mais variados temas da existência humana: amor, amizade, morte e suas vicissitudes, o poder e tantos outros. Muito embora o livro não faça parte da chamada trilogia do absurdo camusian, é, sobretudo, a história de alguém que se dá conta do absurdo da vida.

Camus, Albert. A Queda. Record, 2004
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2 comentários:

  1. Adoro Camus. E só li O mito de Sísifo e O estrangeiro. A queda está na lista de próximas leituras. Bjs

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  2. camus é ótimo. ainda não li nada ruim dele. beijos, lidi.

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