sábado, 6 de agosto de 2011

Só para loucos

She-Wolf, Jackson Pollock

Era uma vez um certo Harry, chamado o Lobo da Estepe. Andava sobre duas pernas, usava roupas e era um homem, mas não obstante um lobo da estepe (...) quando vivia como lobo, o homem nele permanecia como espectador, sempre à espera de interferir e condenar, e quando vivia como homem, o lobo procedia de maneira semelhante (...) Era isso o que ocorria ao Lobo da Estepe, e pode-se perfeitamente imaginar que Harry não levasse de todo uma vida agradável e feliz (...) Harry também conhecia de quando em vez exceções e momentos ditosos em que tanto o lobo quanto o homem podia respirar, pensar e sentir em harmonia (...) Todas essas pessoas têm duas almas, dois seres em seu interior; há neles uma parte divina e uma satânica, há sengue materno e paterno, há capacidade para a ventura e para a desgraça, tão contrapostas e hostis como eram o lobo e o homem dentro de Harry.


Harry Haller, outsider, Steppenwolf, um lobo da estepe, indivíduo deslocado, extraviado do mundo, averso ao mundo e aos valores burgueses, incapaz, no entanto, de identificar-se com a vida das pessoas comuns. Mantém um estilo de vida próprio, inscrito na dualidade de seu ser: se algo não lhe agrada, tampouco seu oposto. Não consegue se entregar à vida, vivê-la. O Teatro Mágico é sua redenção.

HESSE, H. O Lobo da Estepe.
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