quinta-feira, 26 de abril de 2012

E Godot virá amanhã?

Phenomena Waiting Gables, Paul Jenkins

Hoje Godot mandou vir o menino avisar
que hoje não virá,
só amanhã.

O menino, o recebi
debaixo dessa árvore,
quiçá pé de maçã.

Quem fraquejou fui eu,
quem as pernas tremeram fui eu
à mensagem do menino
chegado correndo que nem bala
que mal gozei diante o doce presságio...

... de que virá
que virá
será?

O contrário de salvar-se é perder-se,
assim o contrário de achar é desvairar.
Somos todos uns pretensos desvarios.
Por quê?
Porque Deus, o significado da vida, a morte.

A vida é a espera por Godot,
seu significado, ela própria,
o amor é a espera por Godot:
não se sabe quando vem, se vem, mas esperamos
(a esperança é o estado de quem espera,
como andança é o estado de quem anda).
E qual a crença em que Godot virá
seja nossa espera pela morte,
a saber, possível que nunca chegue,
não obstante a clareza de que um dia...

... aportará
por cá,
mas quem saberá
qui saura chi saprà?

da morte se não sabemos o que ela é
a definimos pelo seu contrário, pólo sul da vida,
nunca pela sua essência
e continuamos vivendo todos os dias igualmente iguais

A morte é um deus.
O significado da vida é um deus.
Godot é um deus,
é Deus.
E que é Deus?
senão aquilo que esperamos à base de um recado
de que um dia virá que um dia virá?

quoi...

Não adianta a esperança,
cada pessoa tem seu Godot,
é embalde se a vigília é por ela mesma.
Importa o que se faz da espera,
com que matéria preencher o vazio da inação.
Se se canta a balada do cão,
se se dança sem canção,
ou se verborragiza todo o saber do mundo.

Godot é um engodo.
Esperá-lo, tão mais.
.

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