quarta-feira, 16 de maio de 2012

Último homem sobre a terra

Sunday, Edward Hopper

O silêncio,
nada de rumores, conversas.

O silêncio
não fosse o quase-silêncio
da voz do arrependimento,
voz que grita: estupido que és!

Não há mais dramas repleto de personagens
assistidos por uma plateia também lotada,
apenas um monólogo para um teatro vazio.

Não há mais a dialética
que constrói o mundo,
somente um dogma patético...

Resta uma masturbação,
não há relação alguma,
nenhuma,
uma sequer...

Como o último habitante da terra,
sobrevivente de uma humanidade
que acordou extinta,
não sabemos se comemoramos sua condição heroica
ou lamentamos a plena solidão.

Como alguém que necessitasse
a interação, a troca, o diálogo
qual vegetal à luz,
padece e perece esse derradeiro ser,
sem uma mísera réstia de sol.

Porém terão morrido todos os homens,
não a esperança (o ato de quem espera),
e cremos que algum dia,
nalgum canto do teatro,
se fará ouvir não só a voz que grita estupido és!
quiçá, oxalá!, rebentará um broto de palavra alheia.


5 comentários:

  1. Que poema maravilhoso!
    Ele traduz meu sentimento do hoje, que teme o contemporâneo, onde as relações se extinguiram e o homem, de pó e letargia, morreu, assim vivinho, máquina enferrujada.

    Parabéns Caio.

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  2. sensacional, rudá.
    quanta inspiração :)

    m.

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