quarta-feira, 25 de novembro de 2009

nunca me dê flores, meu bem

Coin de jardin à Montgeron, Monet

nunca me dê flores, meu bem
já demais as tenho
ademais, far-te-á enciumado
elas me lembram todos que por minha vida passaram
e tu sabes, nunca fui só tua

querias-me donzela
lamento, não pude sê-la
ganhaste-me cheia de máculas
porém o amor é redentor, tu sabias
cultivaste-me assim mesmo
como fez o jardineiro
que a ti vendeu essas flores

mas repito, meu bem, nunca me dê flores
deixa-as no jardim
como não fez o jardineiro
que a ti e a todos que te imitam o gesto as vendeu
deixa-as perfazerem sua biografia
brotar, fertilizar e secar

não é demais dizer
nunca me dê flores, meu bem
já demais as tenho
ademais, hoje somos as flores, o jardim e eu uma coisa só
só te peço que não sejas meu jardineiro
pois não sou mais tua nem de ninguém
e assim serei para sempre virgem

7 comentários:

  1. sem flores, para que ela não precisa voltar ao seu túmulo para rega-las

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  2. Caraca!
    Na metáfora da vida eu sempre fui da opinião que flores são aquele presente que encanta pela beleza efêmera.
    Afinal, quanto tempo dura uma flor?
    Ela seca e, ou vai pra uma página de agenda, seca e feia, ou vai para o lixo do esquecimento.
    Flores no jardim secam, mas na próxima primavera elas voltam, porque a essência continua enraizada.
    Flores num buquê talvez só sirvam para dizer "feliz aniversário", "eu te amo", "perdão" e pouca coisa mais que isso.

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  3. Nossa muito bom mesmo... quando li o comentário do Mayer e o seu "bingo", que voltei ao poema para identificar algo que remetesse a esta interpretação e destaquei o verso:

    "ademais, hoje somos as flores, o jardim e eu uma coisa só"



    abs;
    Fabrício

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  4. Caio meu caro.POesia e flores!!!Estas fazendo coisas que fazem os homens ler!!!

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