sábado, 5 de março de 2011

A Sonata a Kreutzer

 La Sonate à Kreutzer, René Prinet

Daí procedem estes abjetos tecidos de malha, estes babados sobre os traseiros, estes ombros e braços nus, estes peitos quase despidos. As mulheres, sobretudo as que passaram pela escola dos homens, sabem muito bem que as conversas sobre assuntos elevados não passam realmente de conversas, e que o homem precisa do corpo e de tudo o que o exibe sob a luz mais atraente; e é justamente o que se faz. (...) E a instrução da mulher corresponderá sempre à maneira pela qual o homem a encara. Bem que todos nós sabemos como o homem encara a mulher: "Wein, Weiber und Gesang" (vinho, mulher e canção), e o mesmo dizem os poetas em seus versos.  Veja toda a poesia, toda a pintura, toda a escultura, a começar pelos versos de amor e pelas Vênus e Frineias despidas, o senhor vê que a mulher é um instrumento de prazer (...) Não, a princípio, os cavaleiros afirmavam venerar a mulher (veneravam, mas assim mesmo olhavam-nam com um instrumento de prazer). E agora asseguram que respeitam a mulher (...) Fazem tudo isso, mas o modo de encará-la é sempre o mesmo. Ela é um instrumento de prazer. O seu corpo é um meio de prazer. E ela sabe isso.

A Sonata a Kreutzer, um dos melhores livros que li ultimamente, um romance que de forma impecável trata da questão do ciúme, da infidelidade e das relações amorosas. Se o ponto de vista acerca desses temas defendidos por Tolstoi, o personagem Pódznichev enquanto porta-voz, pode não agradar, é inquestionável, por outro lado, a perícia como o leitor é levado a conhecer o íntimo de um homem perturbado pela seu peculiar modo de encarar a relação homem-mulher e tomado de ciúme pela esposa. Boris Schnaiderman, tradutor da obra, em seu posfácio, é um dos que não aceitam "o que Tolstói diz aí sobre a relação entre os sexos", ou questionam a legitimidade das ideias nos dias atuais. Eu, entretanto, senti muita atualidade no que é levantado sobre o amor e como as pessoas encaram-no agora, especialmente porque a hipocrisia humana é a mesma seja na Rússia do século XIX ou no mundo globalizado de hoje.
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9 comentários:

  1. "O seu corpo é um meio de prazer. E ela sabe disso". Pesado!!! Também vejo atualidade nesse raciocínio (longe de mim, restringir o temaa isso). Percebe-se a dedadência da instituição casamento em meio às intransigências e individualismos, principalmente quando o assunto é prazer: primeiro o meu! E parece que a traição e negação ou renagação da mesma, faz parte do jogo...

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  2. Bem bacana você abordar isso, divulgar a obra, independentemente de crenças, de pontos de vista.

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  3. Y tú?
    ?Cree que toda relación tiene traición? Aúnque sólo en el pensamiento?

    ?Cree usted que la mujer es sencillo fuente de placer y nada más?

    Tengo una visión más suave sobre esse tema.Aúnque cuestionable.

    !La mujer es muy alem de fuente de placer!!
    Algunos nunca aprenden, otros desde siempre.

    Y Usted?
    Los lectores aprecian la postura de los escritores.

    Besos!

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  4. hola, extranjera.

    penso que em toda relação há traição. não necessariamente no sentido sexual, mas em algum nível. no contrato tácito que é estabelecido entre as partes, sempre há um ponto em que um ou outro acaba desobecendo. entendo traição como violação desse contrato. é curioso notar que o peso ético cai todo sobre a questão sexual, do envolvimento carnal, como se outros valores, menos palpáveis, digamos, não fossem relevantes.

    não creio no entanto que a mulher seja mera fonte de prazer sensual. em última instância, há um verdadeiro prazer estético na beleza feminina, isso não nego, porém é quando vejo a mulher enquanto mulher. antes ou depois, não saberia dizer a mulher é um ser humano, e a relação que estabeleço com esse ser humano está em todas as órbitas de uma relação social saudável. isso traz um pouco do debate filosófico da essência versus existência. se a essência feminina for um manancial de deleite sexual, que me resta senão aceitá-la? acredito, no entanto, que, como disse sartre, a existência precede a essência, e a vivência humana irá determinar os adjetivos pelos quais podemos caracterizar esse ser feminino. nesse sentido, acho que há muito mais responsabilidade da ala feminina em existir, de modo que essa é a verdadeira essência humana, por paradoxal que pareça, do que me cabe vê-la desse ou daquele modo.

    e você, qual é a tua visão?

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  5. Usted me sorprende con sus ideas, no que lo subestime, no.

    Pero su aparente juventud acompañada de sus análisis y escrita tan "herméticos" (figuradamente) me hacen pensar que és um niño prodigio que debe ser presentado al mundo inmediatamente.O no, mirando por la su preservación, rs.

    Vamos a lo que interessa. Usted afirma que toda la relación há un tipo de traición ( no compartilho de misma idea). Hay que tener cuidado con sus afirmativas. ?Tienes novia? Perdón, sólo una pequeña broma, risas.

    Volviendo ao tema. cuando usted se refere a estos otros tipos de traicción e notifica que las mismas parecen no tener relevancia, es más que seguro, pués todo lo que se refere a la mente

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  6. ... cuando usted afirma que los otros tipos de traición parecen no tener relevancia, es comprensible una vez que nosotros, seres humanos "ignorantes e arrogantes", seguimos la (i)lógica de los actos prácticos y visados, es el instinto o esencia animal que prevalece en algunos casos.

    Pero usted te equivocas pensando que esta idea sea preponderante. !No! por el contrario niño, las personas se sientem mucho más traicionadas cuando se trata de estos otros "valores menos palpáveis" , cuando estes són rotos, el círculo de la moral, ética y confianza sentimental, antes sedimentados, són perdidos de maneira muy trágica. La possibilad de una rescontrucción es poco probable e ardua.
    Y te digo, el peso ético se concentra sí por completo en este tipo de situación, aunque la cuestión sexual presente su significancia. Sin embargo, trato del reconocimiento de los hechos sólo entre la pareja. Cuando se habla en julgamento de la sociedad, la imagen se convierte.

    Me gusta discutir con usted.

    Besos!

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  7. Usted es muy sagaz cuando discute sobre la mujer como el fuente de placer o no.
    compartilho con usted y sartre la ideia d que la existencia precede a esencia tanto para hombres cuanto para mujeres. Las mujeres no debem ser tratadas e vistas sólo como fuente de placer, no, ...

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  8. hola, extranjera.

    talvez eu tenha algum talento, mas menino prodígio cai melhor em mozart, ou sendo menos exigente, num maiakovski da vida, que nos seus 22 anos já era bastante reconhecido no meio artístico russo.

    sabe, muito bom discutir contigo também. inclusive senti um certo desapontamento quando esse post não causou tanto barulho quanto imaginei que fosse causar. agora pelo contrário, talvez ele esteja causando muito barulho até, rs.

    a bem da verdade, tenho namorada, sim. mas me preocupam mas os atos que as palavras. certo ou não, prefiro pensar que tenho uma certa licença ideológica.

    essa discussão sobre ética e valores é bastante interessante porém sobretudo perigosa. e ainda que prefira não adentrá-la por enquanto me questiono, será que são muitas essas pessoas que se sentem traídas nos pequenos atos? e se se sentem, será que elas não imputam esse ressentimento em outras pessoas? os valores, a moral, a ética são absolutos? há quem consiga não cometer nenhum deslize dessa ordem? me pergunto se mesmo sem querer elas não entram em contradição? e por fim, o que é pior, não ter valores ou tê-los por conveniência? não sei, não sei...

    não sou o maior conhecedor de sartre, mas até onde sei de sua filosofia, o homem é livre para determinar sua existência, não está preso ao tempo, espaço, transcende esses limites. sua verdadeira essência é sua existência. aí me pergunto onde fica nossa parte animal nessa história. será que chegamos a um tal nível que nos desvencilhamos dessa condição biológica? é algo pertinente, especialmente nesse tema que temos discutido aqui. alguma luz sobre isso? confesso que não tenho, mas estou providenciando leituras pra poder ligar meu abajur, rs.

    beijos e até!

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  9. Sigo diciendo e creyendo en tu título de "niño prodigio", tal vez usted crea nisso daqui a alguns años, es común a humanos rechazar "nomeações" ou "entitulações" por otros.


    El ruido es lo que no hará faltar en este post, si depender de mí, risas.
    Creo en la relevancia de abordagens tuyas. El debate es siempre bueno y necesario en esta hora, sólo agrega. Genera pensamientos constructivos, amplio conocimiento y el poder argumentativo sedimentado.

    Volveré ya...

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