segunda-feira, 23 de abril de 2012

Insônia em quatro atos

 La Thérapeute, René Magritte

I.

Sou as histéricas de Freud.
Sintomas de mais, causas de menos.
Sou todas as histéricas de Viena, 1895-1939.
Porém não consigo me deixar hipnotizar
pelo tiquetaque do relógio que encabeceira
minha madrugada insone.
Melodia seca de ponteiros desgastados,
quero pra mim sua resignação.
Condenados ao fardo sem greve,
nem esboço de suspensão das atividades.

II.

Não nos é permitida a greve de vida?
As piores leis são as que não existem,
as que obedecemos sem sequer terem sidos escritas.

III.

Sou também o bêbado e a equilibrista,
passeando ébrio na corda igualmente bamba.
Bamba é a vida,
que balança pende vai vem volta dobra e desdobra
e não despenca.

IV.

O telefone toca, o coração atende, a boca cala,
o rosto embranquece, é a ajuda que chega ofertada
por uma voz muda do outro lado da linha.
Levanto da cama,
quem me dera poder urinar todos os problemas.

V.

Como juntar as peças desse quebra-cabeça?
É a espera por Godot.
.

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